domingo, 21 de agosto de 2016


Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento
.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Livro Sexto (1962)



sábado, 20 de agosto de 2016



"... não precisas de falar só porque vamos calados. A coisa mais difícil e mais bonita de partilhar entre duas pessoas é o silêncio."

in No teu deserto de Miguel Sousa Tavares

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

No teu deserto


"Havia qualquer coisa em ti que me irritava e me atraía, ao mesmo tempo. Quando eras  doce e querido, ou quando essa tua loucura latente ou essa tua alegria escondida vinham ao de cima, eu queria ficar ao pé de ti, porque me davas segurança e simultaneamente sentia que devia também proteger-te. Havia um conforto e uma paz ao teu lado que eu não sentia há muito, muito tempo, e que agora ia sentindo, aos poucos, a tomar conta de mim, como uma coisa antiga e segura, perdida lá longe, algures noutras guerras. Mas quando tu ficavas irritado e irritante, quando não querias ouvir as opiniões de ninguém e só sabias dar ordens e esperar que eu e todos à volta ficássemos esmagados pelo teu brilho e clarividência, aí eu afastava-me. Magoada contigo e irritada comigo por me deixar sentir assim magoada por ti."

terça-feira, 16 de agosto de 2016

terça-feira, 2 de agosto de 2016







Terá sido mais ou menos este o sentimento de fim de mini-férias,  dias que passam num sopro: a vida passa mesmo a correr e o melhor mesmo é aproveitarmos cada instante. 
Se levantarmos de mau humor quando o despertador toca no primeiro dia para regresso ao trabalho a melhor solução de todas é mesmo comer um docinho!

Falando em sopro, deixo aqui um pequeno excerto de um livro que se tornou a minha doce companhia durante esse curto período ("ó pra esta já parece o prof. Martelo"), a minha melhor amiga vai procurar se  gostei, querem saber o fim? Vá toca a ler, no que me toca tive uma imensa vontade de poder viajar no tempo, neste caso para o passado que isto da mania do Pokémon Go estava a dar-me um pouquinho cabo da paciência - que sorte ter vivido a adolescência no tempo em que se corria pelos quintais a jogar às escondidas e se ouvia um ralhete da mãe!


"Percebeu então que carregava dentro de si a revolta reprimida pelo amor que lhe havia sido roubado e alimentava uma sede louca, sôfrega, dolorosa, de justiça. Não queria vingança, não era disso que se tratava, procurava apenas um sentido de justiça. Vendo bem, considerou de imediato, se calhar nem era tanto a justiça o que verdadeiramente o atormenta, mas a injustiça. Incomoda-o a incerteza da vida, a arbitrariedade da sorte, a perversidade do destino."

"Mudança significava mudar o presente, mas mudá-lo em busca de algo melhor. 
E o que era melhor?"